quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Outra mutilação...

Recuperado o fôlego, passado o trauma - será que passa mesmo? - recomeçamos a saga pelo nosso filhote.

O primeiro médico que visitei estava na minha cirurgia, acompanhando o proctologista. Cheguei lá toda faceira. Aquele mooooonte de gestantes aguardando consulta, mamães com crianças na sala de espera, e eu lá, uma trompa a menos e um coração cheio de esperança.

Minha mãe tava comigo, mas ficou na sala de espera enquanto eu ia lá falar com o monstro mais insensível que já vi na minha curta vida.

Ele me olhou e disse:

-Lembro de você! Seu pai estava na sua cirurgia!

Abri aquele sorriso de quem é reconhecido por um feito heróico!

Sou eu, doutor!!!
E aí ele começou com um papo estranho. Até que veio o choque de realidade... Ele disse que a outra trompa estava horrível, inchada, deformada, cheia de líquido, fertilização in vitro, médica de fertilidade humana... e mais uma vez eu não ouvia nada. Fiquei ali, sentada, congelada. Pensando, meeeeeu Deus, de novo nããããoooooo!!!!

Levantei pra ir embora com os olhos cheios de lágrimas e na porta ele me fala:

- Não chora agora, deixa pra chorar quando vierem os gêmeos!

Pensei: seu filho de uma égua, te odeio pra sempre!! E nunca mais voltei nele!


Passado um tempo, lágrimas que encheriam um engradado de litrão, resolvi procurar médicos na capital. Fui a 2 muito bons e comecei a pesquisar sobre fertilização in vitro. Tem que aceitar a realidade, né? Aceita que dói menos.

Era o ano de 2015 e resolvi que pesquisaria muito até decidir com quem e como eu faria. Durante esse ano fiz os piores exames da minha vida:

- HISTEROSSALPINGOGRAFIA: senhor! Que merda é essa? Colocam um contraste dentro do seu útero e ele sai pelas trompas. No caso, o meu não saiu porque minha trompa estava fechada. Era o fim de um sonho. A não ser que acontecesse um milagre, eu nunca geraria um filho naturalmente.

Pra quem nunca tinha se ligado em pesquisar em trompas de falópio, eu tava ficando expert no assunto. O nome técnico da parada é HIDROSSALPINGITE. 

Doeu pra caramba, tá? Na moral, bizarro!

No final, o médico falou que eu era muito forte - já disse isso antes - e disse que nem chorei.

Eu respondi:

- Se eu soubesse que podia chorar eu tinha gritado aqui!!

Trompa ruim. Cheia de líquido. Sem poder de contratilidade, alargada. Até pra fazer fertilização tem que tirar. Outra cirurgia, nãããããooooo!!!!

Aí passamos pro exame seguinte:

- VIDEOHISTEROSCOPIA - agora vamos ver o útero. Enfiam, literalmente, uma microcâmera no seu útero e vê como é que tá a situação lá dentro. O médico ficava falando: olha lá seu útero!!! E eu respondia: tira essa porra daí, pelo amor de Deus!!!
Aprendi a sentir dor. Muita dor. Física mesmo.
Lembro de sair desse exame ir no bar do Adão tomar chopp e comer pastel sozinha, remoendo meus pensamentos... nada como o álcool pra superar qualquer decepção.

Ciente de que não teria outra opção a não ser tirar a trompa, marquei a cirurgia pra dezembro. Com o mesmo proctologista. 

Bora beber, Homer

Nenhum comentário:

Postar um comentário