segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Ano Novo, nova chance

2017 começou muito bem! Fizemos uma festinha bem VIP só com uns casais bem amigos mesmo. 

Aproveitamos o dia 31 de dezembro com força! Muita praia, muita cerveja! Daquele jeito!!
Viramos o ano na praia, entre amigos, só amor, pulamos ondas, ficamos sozinhos, fizemos promessas de nos amar sempre, independente das barras que enfrentaríamos nessa vida louca.

Seguindo o conselho do meu médico, parei o anticoncepcional no dia primeiro.

No dia 4 fiquei menstruada. Ele me mandou iniciar o Ultrogestan 3 vezes por dia e o Primogyna 2 mg, 2 vezes por dia. Fui umas duas vezes no consultório pra fazer a ultra e marcamos a transferência. Seria um sábado. Na última visita fizemos um procedimento que não me lembro bem o nome, mas era uma raspagem no útero pra deixar tipo uma caminha pros embriões ficarem melhor. Doeu, mas nada demais, foi na clínica mesmo, e me deixou com cólica o resto do dia. 

Organizei tudo em casa, no trabalho, pedi substituição para não ter que dar aula. Contei para o mínimo de pessoas possível, somente o necessário mesmo.

Dia 21/1/17 chegou. Fiz uma promessa com meu marido de que até o dia do beta não iríamos beber uma gota sequer de álcool.


Cheguei à clínica e tomei  um chá de espera. Ao chegar, a energia boa do meu médico tirou toda a ansiedade que eu sentia. Ele me deu um beijo na testa e disse bem confiante: "Dessa vez, vai!" Estávamos todos acreditando muito!

Fui colocar meu avental e fiz uma ultra pra ver a bexiga. Tava cheia demais!hahahah Voltei pra fazer um xixi e enfim fui pra sala para ser preparada pra transferência. Pela primeira vez eu e meu marido fizemos uma oração juntos. Pedimos a Deus que nos ajudasse a aumentar nossa família!

Uma menina muito delicada fez a limpeza da região, porque o ultrogestan fica saindo e deixando tudo melecado de branco.rs As biomédicas estavam empolgadas com nossos lindos embriões de 3 dias, um de 12 e outro de 8 células. 

E lá vem o doutor com seu ritual de entrar com o pé direito na sala, quase morri de rir, já tava tão acostumada com aquela situação que me sentia confortável. Em seguida meu marido lindo entra e se posiciona do meu lado esquerdo, no mesmo lugar de sempre, aperta minha mão com tanta força que parece que vai quebrar meus ossinhos. Do lado direito a Tv do ultrasson mostrando meu útero e a bexiga., a tv da frente mostrando os bebezinhos que entrariam ali.

Fechei os olhos e rezei, rezei muito. As lágrimas escorriam mesmo sem eu querer. Deixaram só eu e meu marido ali naquela salinha por uns bons 20 minutos. Nos amamos com os olhos, nos beijamos, apertamos, rezamos, concebemos nossos filhos. Foi lindo, mágico, intenso.

Das outras vezes eu estava tão nervosa que não curti esse momento. Dessa vez foi diferente. Sentimos a presença de Deus ali, naquele momento.

Depois passamos mais uma horinha no quartinho e fomos liberados.

Fizemos nossa viagem de volta com muito cuidado. Passei o resto do dia na cama, sendo mimada pelo  meu amor.

Mantivemos os remédios, só acrescentamos o AAS infantil, 1 vez ao dia.

Aqui começava a longa espera pelo beta. Seriam os 12 dias mais longos da minha vida.


2016 ainda rendeu - Corajosamente corajosos

Ao retornarmos da nossa viagem de férias renovados e transformados, estávamos também encorajados.

Recebemos uma grana que não estávamos esperando e resolvemos recomeçar o nosso processo. Era novembro.

Recomeçaram as viagens-visitas ao médico, as injeções de vacina, os inchaços, a diminuição das atividades. Dessa vez eu estava determinada a não fazer nada durante o processo de espera do beta. Então, enquanto hiperestimulava meus ovários, consegui aumentar o quadro de professoras do estúdio, prevendo que uma hora eu teria de parar de dar aula.

Tudo fluiu bem. Tudo organizado no trabalho. Mente focada no meu objetivo.

Algumas coisas mudaram na forma de estimulação dessa vez. Algumas vacinas diferentes, menor quantidade de Primogyna. Pela primeira vez fui sozinha ao médico pois meu marido não podia ir. Eu estava realmente transformada. Eu estava pronta.

Fomos fazer a punção dos óvulos e dessa vez conseguimos 15!! UAU!!

Após a fertilização, só 8 ficaram bons de verdade. Mas tá bom demais!

Dessa vez meu médico me propôs uma técnica diferente. A TEC (Transferência de Embriões Congelados). Então, apesar de ter ido tudo bem, resolvemos que só faríamos a transferência em 2017.

Aproveitamos pra curtir muito nosso réveillon e tomar minha última grande cachaça por um longo tempo.

Comecei a tomar um anticoncepcional só pra menstruar na data que queríamos e começar o ciclo pra implantação.

Eu amo ano ímpar e não tinha dúvida alguma de que dessa vez teríamos um positivo.  



Período de Luto

É uma coisa tão louca passar por essa situação...

Na minha cabeça já tive 4 abortos:

- o primeiro aos 19 anos, quando senti uma cólica imensa no metrô, quase desmaiei, e quando cheguei em casa vi sair uma coisa bem estranha e disforme de dentro de mim. Liguei pro meu pai, que é ginecologista, e ele disse que poderia ter sido um aborto espontâneo. Pode não ter sido, mas sofri ali.

- O segundo foi aos 32 anos, quando já havia 1 ano que tentava engravidar do meu marido, e tive um gravidez tubárea. Foi um luto enorme, uma dor imensa. Tenho até uma tatuagem para homenagear meu primeiro bebê real que se foi.

- O terceiro foi aos 34 anos, após o negativo gigante que ganhei no beta da minha primeira FIV. Nossa, como chorei, como achei que Deus não queria que eu fosse mãe, como me culpei, como sofri. Mas resolvi seguir em frente.

- O quarto foi na segunda tentativa de FIV no mesmo ano. Dois negativos em 1 ano. Triste.

Aí você pode pensar: "Mas se deu negativo, você não tava grávida!" Ok, fala isso pra minha cabeça, pro meu corpo... fala isso depois de ver seus bebês sendo inseridos no seu útero. Quero ver...

Foram 4 lutos, 4 enterros, 4 vezes que caí e levantei. 

Em todos eles precisei de um período pra me recompor. Precisei chorar muito, precisei do ombro do meu marido, precisei me enfiar no trabalho pra esquecer. Mas passa, tá?

Nunca pensei em desistir! Eu não iria desistir, só se o meu médico me mandasse parar. E ele não mandou.

Na última vez que recebemos o não já tínhamos viagem marcada pra Indonésia. Já havíamos ido mais de uma vez pra esse país tão cheio de energia. Mas cada vez é diferente, E dessa vez vivemos momentos únicos.

Primeiro fomos pra uma ilha absurdamente linda, chamada Mentawai. O lugar foi completamente destruído naquela Tsunami horrorosa que aconteceu. Chegar lá e ver que não existe pra onde ir se houver outro desastre, estar num paraíso daqueles tipo Off mesmo e ver o que restou do que existia antes do mar lavar tudo tem uma energia incrível. E ficamos tipo uns bichinhos mesmo, já que nossa bagagem foi extraviada e ficamos a base de doações dos hóspedes do resort por uma semana. Ali me reconectei com Deus, com sua força e seu poder, ele me mostrou de novo o meu lugar, minha importante insignificância nesse mundo. Deus se mostrou pra mim através de uma natureza exuberante, do silêncio e da solidão, da força da destruição e da necessidade de reconstrução.

o resort que ficamos em Mentawai (foto da internet)

Partindo de lá, já transformados e com a bagagem em mãos, fomos a Bali. E lá visitamos um templo que sempre tive vontade de ir. Chama-se Tirta Empul, é o templo das águas sagradas, e nós acertamos o dia de ir, pois era o dia do ritual de purificação,

Ouvimos toda a história de como aquela nascente era sagrada, como seria feito o ritual de purificação e nos propomos a ir como se fôssemos hindus. Não fomos pra tirar fotos e postar em redes sociais. Fomos vivenciar de verdade aquela energia. E foi lindo. Foi intenso. Agradecer, meditar e pedir.

As fontes de água sagrada do Tirta Empul(foto da internet)
Existe uma ordem para passar nas fontes e em cada uma delas uma parte do seu corpo, da sua mente ou da sua alma é purificado. É extasiante. É incrível.

Voltamos da Indonésia purificados, reconectados e com a certeza de que o melhor estava por vir.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Segunda FIV, todas as esperanças ali

A primeira FIV foi em abril de 2016. Achamos que iríamos passar o dia das mães comemorando. Mas aí alguma coisa deu errado e não engravidamos.

Viajamos de férias pra Chapada Diamantina, fizemos uma trilha sensacional até o Vale do Pati, revitalizamos as energias nas cachoeiras e depois fomos passar uns dias em Itacaré. Fica mais fácil superar assim, né?



Na verdade, amiguinhas, fivetes, tentantes, ou seja lá como vocês se definem, o importante mesmo nessa fase da sua vida é a relação que você tem com seu marido. Como disse anteriormente, para meu marido esse sempre foi um problema NOSSO, não MEU. Então, cada dor, cada angústia, cada dúvida era nossa. Conversávamos, chorávamos, ríamos, tudo sempre juntos. E nos prometemos que independente de qualquer coisa estaríamos sempre um do lado do outro.

Marcamos nossa próxima tentativa. Seria em julho. Pensamos que passaríamos o dia dos pais comemorando . Dessa vez ia dar certo!

Como já tínhamos embriões congelados, foi bem mais simples e rápido. Tomei alguns medicamentos pro útero se preparar pra receber os bebês. Primogyna e Ultrogestan, meus amiguinhos de sempre.

Chegado o dia, repetimos tudo. Bexiga cheia, salinha de espera, mãozinhas dadas, pé direito antes de entrar na sala, embriões lindos (dessa vez de 5 dias), biomédicas felizes e o Divino Espírito Santo solicitado novamente. Dessa vez senti dor na hora da transferência e já não gostei.

Eu estava menos esperançosa. Mas estava lá. Já tínhamos férias marcadas pra setembro e eu ficava pensando como viajaria pra Indonésia grávida, mas eu viajaria e ponto.

Passados os procedimentos e o descanso, voltamos pra casa. Não dei aula, não treinei, mas durante a espera tive que fazer a mudança do meu estúdio. E fiz. Sobe e desce escada,  carrega um pesinho aqui outro ali. Estresse. Mas enfim, deu tudo certo no estúdio.

Chegou a hora do beta. Meu marido que viu, não tive coragem. Outro negativo. Outro zero.

Outra menstruação. Mas essa atrasou, então fiz outro beta. Não queria acreditar. Era zero mesmo. Meu médico ficou super triste. Nós ficamos super tristes.

Não tinha mais embriões. Teria que começar tudo de novo...

Ainda bem que iríamos pra Indonésia... precisávamos de férias. 



A primeira FIV a gente nunca esquece

O ano de 2016 começou com tudo!

Retirei a trompa esquerda no finalzinho de dezembro e a recuperação foi bem melhor, mais rápida e menos traumática que a primeira.

Minha irmã estava aqui com meu cunhado e eles me ajudaram a passar por isso de uma forma bem leve. No dia da minha alta, que foi no dia seguinte da cirurgia, fizemos um churrasco e até vinho eu tomei...


Eu não sou muito fã de ano par não, sabe... tenho essas paradas supersticiosas mesmo, mas eu queria muito tentar. Então, passado o carnaval que curtimos intensamente-loucamente-como-se-não-houvesse-amanhã, fui procurar o médico especialista indicado pelo doutor Bernardo (meu médico do interior).

Na primeira consulta já simpatizei muito com ele. Doutor Marco, um senhor bem humorado, positivo, que olhou meus exames e falou: Partiu, gata!!! Bora botar esses meninos pra dentro. Eu estava morrendo de medo de ter que repetir os exames malditos (eu já expliquei sobre eles no outro post). Mas ele estava super confiante, fez um ultrassom, falou que eu era jovem e que tudo daria certo. Meu marido foi comigo nessa e em todas as outras consultas. No mês subsequente, viajamos cerca de 6h, uma vez por semana para fazer o acompanhamento.

Sinceramente, não me lembro o nome de nenhuma vacina que tomei. Mas foram umas 10 injeções na barriga, uma por dia, que eu mesma aplicava. No final me deu um nervosinho e meu marido passou a aplicar pra mim. Essas injeções são pra hiperestimular os ovários a produzir bastantes óvulos que serão aspirados na próxima etapa.


Nesse período das picadinhas eu tive que me controlar. Não pode correr, pular, ficar de cabeça pra baixo... SENHOOOORR!!! Tudo que eu amo fazer!! Mas segundo meu médico, há uma possibilidade de o ovário torcer e necrosar. É pequena, mas há. Então fiquei quieta e sosseguei o faixo.

Passada essa fase, que acompanhamos por ultrassom - Sim, continuávamos pegando a estrada só pra fazer o US. Normalmente dirigíamos duas a três horas, ficávamos 5 minutos com o médico e dirigíamos mais duas a três horas até nossa casa. Foi cansativo mas a gente tava lá, firmes e fortes - marcamos a aspiração dos óvulos.

Essa parte foi tranquila. Foi feita na clínica mesmo. Como eles dão anestesia, você nem sente nada. É bem de boa. No final tinha um lanchinho, fiquei repousando uns minutinhos pra passar o efeito da anestesia e voltei pra casa. Day off.


Desde minha primeira cirurgia que amo anestesias! hahahhaha Parece que cortam um pedaço da sua vida. Você não lembra de nada mesmo!! Eu adoro!!

Fomos pra casa aguardar o dia que ficaríamos grávidos. Acho que foi tipo 1 semana depois.
Produzi 12 óvulos, dos quais 8 vingaram e desses apenas 4 evoluíram bem. Pouco, né? Também achei, mas estava tão certa de que iria dar certo que já tinha era filho demais!! 

Mulher jovem, útero bom, só o caminho que tava comprometido. Ia dar tudo certo.


Enfim chegou o dia. A única exigência era a bexiga cheia. Cheguei lá tão apertada que tive que aliviar um pouco.

Fomos pra salinha. Era chegada a hora de engravidar. Dessa vez não tinha anestesia não. Meu marido estava lá segurando minha mão o tempo todo. Meu médico entrou na sala com o pé direito. As biomédicas estavam super felizes com os embriões. Uma energia sensacional. Foram colocados 2 embriões de 3 dias (podem ser de 3 ou 5 dias de maturidade, depende do seu médico). Meu médico pediu a iluminação do Divino Espírito Santo na hora H.

Após o procedimento indolor, fomos deixados na sala. Nossa nova família. Nós 4. Fizemos uma prece agradecendo a evolução da ciência. Somos jovens. Acompanhamos o primeiro bebê de proveta na TV, e agora éramos nós precisando dessa tecnologia pra aumentar nossa família. Estávamos grávidos.

Ficamos uns 20 minutos lá dentro e aí me levaram de cadeira de rodas até o quarto. Fui liberada pra fazer xixi e parecia as cataratas do Iguaçu. Por um momento achei que os bebês iam sair na urina, mas isso não tem nadaaaaa a ver!!! Ficamos cerca de 1 hora no quarto, lanchando e descansando. Fomos liberados pra voltar a nossa cidade no mesmo dia.

O médico pediu 2 dias de repouso antes de voltar às atividades normais. Mas minhas atividades não são normais. Era sábado. Passei o fim de semana na cama. Na terça eu já estava piruetando, ficando de cabeça pra baixo... na quinta dei 12 aulas de Neopilates. 

Durante todo o tempo de espera senti coliquinhas, mamas inchadas, desejos, enjôos, azia. Todos os sintomas de gravidez. Eu estava tomando primogyna e ultrogestan 3 vezes por dia. Eles eram os responsáveis pelos sintomas.

Chegou o dia do beta. Quantitativo. Deu 0. Acabou.

No dia da menstruação ela veio. Sem atraso.

Eu chorei, meu marido chorou. Como nunca choramos. Uma catarse.

Mas decidimos seguir em frente. Iriamos tentar de novo. E logo.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Infertilidade humana

Quando uma coisa dessas acontece na sua vida, salvo quando você é uma pessoa muito evoluída e espiritualizada e madura e Buda, é inevitável uma revoltinha básica!

Por que eu?
O que eu fiz pra merecer isso?
Por que as cracudas tem um filho atrás do outro?
Por que as pessoas jogam os bebês no rio e eu não posso ter o meu?
Sou menos mulher porque não posso gerar um filho naturalmente.
Meu marido vai me deixar e ter um filho com uma novinha piranha na primeira escapada.
Já sei! É seleção natural! Meus genes devem parar aqui!

Coisas absurdas desse tipo passam sim pela sua cabeça. E parece que o mundo ao seu redor engravida pra jogar na sua cara que SÓ VOCÊ NÃO PODE!


E não é um assunto fácil, legal de abordar. Algumas pessoas ficam com dó, outras com medo de serem as próximas e aí você vai se isolando, sofrendo sozinha, chorando pelos cantos, rezando a Deus pra acordar desse pesadelo. Mas não rola. Encara, fia, tu é diferentona.



Numa pesquisa rápida, na época, lembro de ter visto que a infertilidade feminina é 55% e a masculina 45%. Rapaz, se dói na mulher, avalie no homem?

Infertilidade não é bom pra ninguém. Acredite.

É um fantasma que te assombra pra sempre. Mas aí o tempo vai passando e você vai se adaptando. Vai se acostumando. Vai se aceitando.

Eu tenho sorte porque meu marido me ama de verdade. Ele nunca esfregou na minha cara as 5 estrelinhas que o espermograma dele ganhou. Pra ele sempre foi um problema nosso. E isso fez minha autoestima se manter mais alta que a maior escalada que já fiz!

Enfim, 2016 chegou e com o novo ano e a esperança de que a ciência resolvesse todos os nossos problemas,

Juntamos força, dinheiro e coragem e começamos a saga da fertilização in vitro (FIV).


Outra mutilação...

Recuperado o fôlego, passado o trauma - será que passa mesmo? - recomeçamos a saga pelo nosso filhote.

O primeiro médico que visitei estava na minha cirurgia, acompanhando o proctologista. Cheguei lá toda faceira. Aquele mooooonte de gestantes aguardando consulta, mamães com crianças na sala de espera, e eu lá, uma trompa a menos e um coração cheio de esperança.

Minha mãe tava comigo, mas ficou na sala de espera enquanto eu ia lá falar com o monstro mais insensível que já vi na minha curta vida.

Ele me olhou e disse:

-Lembro de você! Seu pai estava na sua cirurgia!

Abri aquele sorriso de quem é reconhecido por um feito heróico!

Sou eu, doutor!!!
E aí ele começou com um papo estranho. Até que veio o choque de realidade... Ele disse que a outra trompa estava horrível, inchada, deformada, cheia de líquido, fertilização in vitro, médica de fertilidade humana... e mais uma vez eu não ouvia nada. Fiquei ali, sentada, congelada. Pensando, meeeeeu Deus, de novo nããããoooooo!!!!

Levantei pra ir embora com os olhos cheios de lágrimas e na porta ele me fala:

- Não chora agora, deixa pra chorar quando vierem os gêmeos!

Pensei: seu filho de uma égua, te odeio pra sempre!! E nunca mais voltei nele!


Passado um tempo, lágrimas que encheriam um engradado de litrão, resolvi procurar médicos na capital. Fui a 2 muito bons e comecei a pesquisar sobre fertilização in vitro. Tem que aceitar a realidade, né? Aceita que dói menos.

Era o ano de 2015 e resolvi que pesquisaria muito até decidir com quem e como eu faria. Durante esse ano fiz os piores exames da minha vida:

- HISTEROSSALPINGOGRAFIA: senhor! Que merda é essa? Colocam um contraste dentro do seu útero e ele sai pelas trompas. No caso, o meu não saiu porque minha trompa estava fechada. Era o fim de um sonho. A não ser que acontecesse um milagre, eu nunca geraria um filho naturalmente.

Pra quem nunca tinha se ligado em pesquisar em trompas de falópio, eu tava ficando expert no assunto. O nome técnico da parada é HIDROSSALPINGITE. 

Doeu pra caramba, tá? Na moral, bizarro!

No final, o médico falou que eu era muito forte - já disse isso antes - e disse que nem chorei.

Eu respondi:

- Se eu soubesse que podia chorar eu tinha gritado aqui!!

Trompa ruim. Cheia de líquido. Sem poder de contratilidade, alargada. Até pra fazer fertilização tem que tirar. Outra cirurgia, nãããããooooo!!!!

Aí passamos pro exame seguinte:

- VIDEOHISTEROSCOPIA - agora vamos ver o útero. Enfiam, literalmente, uma microcâmera no seu útero e vê como é que tá a situação lá dentro. O médico ficava falando: olha lá seu útero!!! E eu respondia: tira essa porra daí, pelo amor de Deus!!!
Aprendi a sentir dor. Muita dor. Física mesmo.
Lembro de sair desse exame ir no bar do Adão tomar chopp e comer pastel sozinha, remoendo meus pensamentos... nada como o álcool pra superar qualquer decepção.

Ciente de que não teria outra opção a não ser tirar a trompa, marquei a cirurgia pra dezembro. Com o mesmo proctologista. 

Bora beber, Homer

O começo de tudo

Pra situar vocês na história toda, vou contar do primeiro trauma: A GRAVIDEZ TUBÁREA.

Cara, não desejo isso pro meu pior inimigo!!

Já estávamos tentando engravidar a 1 ano. Viajamos de férias pra Indonésia e quando voltamos tive um febrão de uns 39 graus no dia da chegada.

Os dias foram se passando, voltei pra minha rotina. Nessa época eu dava aulas de Pilates Contemporâneo e fazia aula de tecido acrobático. Lembro que no fim de semana antes do caos se estabelecer eu fiz aula de tecido na sexta, corri 6km no sábado, fui à praia e brinquei muito no domingo.

É disso que eu gosto
Tava sentindo umas coisas diferentes, minhas mamas inchadas, meu quadril mais largo, enjoos matinais (gente, não querer comer é um sintoma grave no meu caso). Mas, como eu tinha menstruado normalmente nos meses anteriores e nesse bendito mês tinha saído uma borra cor de café, entendi como um prenúncio do que vinha por aí. 

Segunda dei várias aulas de Pilates, mesmo sentindo muitas cólicas, mas meu bem, sou forte pra ca&¨$#lho!! Nesse bendito dia, no fim do dia,fui pra casa me sentindo muito mal. A dor era realmente insuportável.

Não teve força que aguentasse a dor
Como tenho pai médico e ginecologista, liguei pra ele imediatamente. Ele disse que eu poderia estar abortando. Mandou fazer repouso absoluto, colocar ultrogestan e fazer um beta no dia seguinte.

E voilà! Painho estava certo! O beta deu positivo e mesmo com a possível perda  do meu bebê, nós comemoramos muito essa gravidez!!

Fiquei 1 semana deitada. Só levantava pra fazer xixi e tomar banho. Tentei inúmeras vezes marcar minha médica, que sabia que eu estava querendo engravidar (fiz todos os exames pré gravidez e deu tudo ó! Normalíssimo! Vai lá e dá, minha fia!! Eu fui, né?), mas a filha da mãe da secretária dizia que não tinha vaga.

Fui um dia com dor e tudo e fiz plantão lá no consultório. Mas dei azar que o pai da médica morreu naquele dia e ela não foi. Resolvi então ir numa emergência, porque queria muito aquele bebê e o sangramento continuava aumentando.

Aí as coisas começaram a mudar. Fui atendida por um médico maravilhoso que me acompanha até hoje. Ele me pediu um US. Achei que ia ser o dia mais feliz da minha vida. Meu marido foi pra lá pra vermos nossa sementinha na telinha pela primeira vez... Aí a técnica enfia aquela porra gelada em mim, olha, mexe, empurra, calma aí, pô, e diz:

- Querida, seu útero está gravídico mas não tem nada nele!


Pensa num susto. Mandei na lata: 

- Quiridinha, tem que tá aí! Meu beta deu positivo. Olha direito, sua idiota!!!

E aí ela começou a falar em tubárea, gravidez ectópica, e eu já não ouvia nada além dos dedinhos do meu marido estalando... acabou,,,

Mas tava loooonge de acabar, viu?

Foi mais uma semana de aperreio. Confirmada a tubárea (através de US com um médico especialista), fiquei fazendo beta de 2 em 2 dias pra ver se ele diminuía e eu fugia da cirugia. Mas baby, era meu filho, ele sabe se prender e se pendurar! O beta não diminuiu! E eu gostava de disso! Loucaaaaaa... Iniciamos o processo pra cirurgia. Fiz uma videolaparoscopia meio de emergência. O médico era proctologista!!! Mas gente, moro no interior e eles não autorizaram eu viajar pro Rio de Janeiro, então, se só tem tu, vai tu mesmo!!

O primeiro susto que tomei quando a cirurgia acabou foi ver que a cicatriz era do lado esquerdo. Comecei a chorar e gritar que tinham errado o lado!! Só acalmei quando o médico veio me explicar que não era nada disso. Que ele tinha tirado a trompa direita. O acesso dos materiais da videolaparoscopia que é contralateral, Ufa! hahaha

Erraram o lado, seus incompetentes!!!
 Passado o engano, veio o segundo susto. Não mencionei antes, mas minha família veio pra minha cirurgia (família nordestina é assim). E painho acompanhou de perto. Mas, quando vi a cara que ele entrou pra me visitar fiquei mais branca que uma folha de papel. Aquela cara de que deu ruim, sabe? Mas, afinal, não tinha resolvido o problema? Tinha uma trompa ainda, né não? Ele não me falou nada na hora, ficou quieto e eu sofri calada.

Recuperei minha sanidade lentamente. Fiquei 3 meses sem trabalhar (fui demitida no meu estado de convalescença.Existe gente muito ruim no mundo). Esse tempo me ajudou a me recompor. Meu marido é a coisa mais linda do mundo e me ajudou mais do que tudo.

Ambos tivemos que tomar um remédio bizarro, um antibiótico, porque fomos pré julgados como fodedores-de-todo-mundo ou pessoas-imundas-sem-higiene-que-pegam-todo-tipo-de-bactéria. Falaram que viajávamos pra lugares sem higiene, etc, etc.

Um mês depois saiu o resultado da biópsia da trompa:

- um bebê de 6 semanas 
- endometriose na trompa direita  

Quem sou eu


Uma mulher comum. Daquelas que você sempre vai conhecer alguém que é a minha cara.

Sou super saudável. Atualmente (2017) tenho 34 anos, quase 35 (faço em março). Sou extremamente ativa, daquelas ligadas no 220v. Tenho minhas dúvidas se é porque sou nordestina. 

Minha rotina inclui inúmeros exercícios físicos. Sou fisioterapeuta, instrutora de Neopilates, instrutora de Acroyoga e nas horas vagas gosto de correr, andar de skate, jogar altinha na praia, praticar tecido acrobático, enfim, manter o corpo em movimento.


Acroyoga, uma das minhas paixões


Estou no meu segundo casamento. Fiquei 9 anos com o primeiro e nunca engravidei. Estou há 5 anos com o verdadeiro amor da minha vida e é inevitável querer um fruto dessa relação de amor real.

Nunca tive nenhum tipo de doença sexualmente transmissível, nem precisei usar pomadas intravaginais. Minha menstruação sempre foi normal. Tomei anticoncepcional dos 13 aos 32 anos. Sou filha de ginecologista, logo, frequento esse tipo de médico desde sempre. Nunca tive nenhuma alteração nos meus exames de rotina.

Em 2014 tive uma gravidez ectópica (na trompa direita) e a saga começou. Em 2015 fiz outra cirurgia para retirar a outra trompa que estava entupida e inchada e minhas chances de uma gravidez natural foram pelo ralo.






Fiz 2 FIV em 2016 e 1 TEC em 2017, e neste exato momento estou grávida de 1 a 2 semanas. Consegui meu positivo e finalmente resolvi contar o que as pessoas não te contam.

Se quiser informações científicas e médicas sobre o assunto não será aqui. Usarei esse espaço pra desabafar sobre tudo o que passei e registrar para sempre o que ninguém nunca me contou que eu poderia um dia passar.


Tenho certeza de que muitas passaram ou estão passando por isso em silêncio.

Bem vindos a minha vida!