segunda-feira, 6 de março de 2017

O limbo

E então se passou a fase tensa, já fizemos a ultra e vimos que tá tudo bem. 

Fui na primeira consulta de pré-natal e me despedi do médico que fez possível gerar uma vida em mim.

Teoricamente, hora da diversão!!


Aniversário do marido chegou e comemoramos muito. Foi uma semana antes do carnaval e recebemos em nossa cidade um dos blocos que mais amo do Carnaval de rua do Rio de Janeiro, Cordão do Boitatá. Frequentamos esse bloco juntos desde que namorávamos, e esse ano não vamos ao Rio, por motivos óbvios. Mas não é que o bloco veio até nós?

Enchemos uma bag de Brahma e Brahma zero (porque não sou obrigada a ficar na água), levei um bolo de churros delicioso, uma cadeira de praia e muita animação. Curtimos muito com nossos amigos. Ele então, com motorista da rodada!! Foi à forra!!


Semana seguinte chegou carnaval! Fantasias prontas, curtimos a sexta a noite com muita animação!! Sábado e domingo fomos a praia, sem bloquinhos. Aqui na cidade não tem muita animação. Não vou mentir que fiquei meio de mal humor por causa disso. Meus amigos todos bebendo na praia e achando tudo ótimo e eu lá, careta, sem graça. Nem a Brahma zero descia mais com tanto enjôo que comecei a sentir. Não suporto o cheiro de cerveja. Enjoei...

Domingo à noite, antes de dormir, senti uma cólica muito forte, bem estranha, bem no baixo ventre, doía até a vagina, o ânus, bem louco. Fui fazer um xixi e vi o papel sujo de sangue, sangue mesmo, vermelho. Entrei em desespero. Chorei. Fui de novo. Saiu menos, mas saiu.

Acordei arrasada.


Aí descobri que estou no limbo. Meu médico da FIV já me deu tchau, meu médico daqui não me assumiu completamente, logo, não tenho seu celular. Quem poderia me ajudar??
Liguei pro meu herói, meu pai! Mas nem ele me atendia, tadinho, deveria estar aproveitando o carnaval e a filha aperreando ele.

Continuou saindo uma borra café ao longo do dia. Com cólicas. Tava tão preocupada que chamei meu médico do Rio. Prontamente ele me respondeu que não havia de ser nada grave, mas que eu fosse na urgência fazer uma ultra pra garantir que tava tudo certo com o bebê.

Fomos. Segunda de carnaval.

Mofamos 1 hora pra ser atendidos pelo GO de plantão, mesmo com a pulseira amarela, que na minha opinião deveria ser alarmante, mas parece que não. Ele fez o toque e o colo do útero estava fechado. Ok. Agora a ultra. Fiquei animada por fazer logo, mas... a médica da ultra que estava de sobreaviso não estava lá. Era meio dia e ela só chegaria depois das 13:30h. E eu lá, com cólica, com borra, preocupada, enjoada, sentada numa cadeira desconfortável, afinal, não era pra ficar de repouso?

Meu marido foi comprar um lanche, só consegui tomar o suco de laranja. Não descia. Tava enjoada. Bom sinal, né?

Nesse meio tempo o doutor-herói-painho me ligou. Disse pra ficar tranquila, não haveria de ser nada. Mandou repousar e manter o ultrogestan que tô tomando.

14h a médica da ultra chega, reclamando que sempre tem atendimento no plantão dela, afirma que não veio antes pois tinha acabado de sair do hospital quando ligaram pra ela, que desse jeito ela teria que ficar direto lá... a gente se sente um pedaço de merda. É meu filho, porra!!! Meu filho tão amado e desejado!! E você aí de preguiça de trabalhar! Afinal, a gente paga esse plano pra quê?


Troca de roupa, deita na cama, abre a perna, ai, doeu! Homem sabe lidar melhor com isso, por incrível que pareça. Mulher é mais grosseira. Mexe pra lá e pra cá. Silêncio, tensão. Estalar de dedos do marido. Fui inundada por um oceano de sentimentos, lembrei que foi ali mesmo que fizemos a primeira ultra da nossa vida. E meu marido estava na mesma cadeira, com o mesmo olhar perdido na sala, estalando os dedos, quando a médica falou que não via nada no útero. Eu tremia muito. Não conseguia parar. Mas dessa vez era diferente. E essa médica-preguiçosa-reclamona logo falou que o neném tava lá, agarradinho em mim, sem alterações.

Ufa! Alívio e sorrisos, trocamos um olhar de ternura. Escapamos. O bebê estava agora com o dobro do tamanho (14mm) e a ultra acusava 8 semanas. Ela chamou meu marido pra ver e ali já esqueci que ela era preguiçosa. Ela colocou o coração pra ouvir e ele pôde, finalmente, perceber a vida que bate aqui dentro. Nosso pedacinho de amor.

Saímos de lá pra retornar ao GO. Mas havia uma fila com 5 gestantes e ele tava no centro cirúrgico. Não quis esperar. Fomos embora descansar.

Fiquei de repouso mesmo. Só levantava pra fazer xixi e tomar banho. Continuei enjoando muito. Algumas cólicas persistiram e a borrinha cor de café continuou saindo, às vezes com uns coágulos, vermelho não.

Mandei um email pro meu médico do pré-natal porque é a única forma que tenho de falar com ele. Ele respondeu que era normal e que se sentisse cólica e sangue vivo fosse na urgência. Fiquei confusa.

Meu aniversário chegou e passei de cama. Mas feliz. Quarta de cinzas. 35 anos. Grávida. Meus amigos vieram para um bolo surpresa e me senti muito amada, apesar de desconfiar desde o começo. 



Na quinta a borra parou. O papel começou a vir limpinho. Agradeci muito a Deus. Tenho rezado bastante.

Continuei de repouso mesmo assim, mas comecei a levantar, me alimentar na mesa. E resolvemos que no sábado voltaríamos a dormir na nossa cama, no andar de cima.

Acordei muito enjoada, vomitei de manhã, depois vomitei no almoço. Senti cólicas intensas no baixo ventre. Tomei buscopan pra aliviar.

Quando íamos subir à noite, fui fazer xixi e lá estava o famigerado sangramento. De novo. Que triste. Voltamos à estaca zero.

E eu no limbo. 

Mandar um email no fim de semana não parecia um boa ideia. Falar com  meu médico do Rio me deixa sem graça porque ele já me liberou. Então... paiêeeeee!!!!

Painho prontamente me respondeu. Não precisava voltar ao hospital. Manter o descanso e o remédio. Ele disse que pode ser uma reação tardia à implantação: reação decidual. O doutor google me deixou confusa com suas explicações e deixei isso pra lá. Como esse último sangramento veio exatamente no dia que eu ficaria menstruada, resolvi considerar que meu corpo ainda está se acostumando a não precisar sangrar, então, às vezes ele se confunde. Boa essa, né?

Na mesma noite parou de sair. Nos dias subsequentes um pouquinho de borra, algumas cólicas e tomei uns buscopan.

Continuo de cama e tento ficar calma. Só quem passou por isso sabe do que tô falando.

Uma mulher normal pode perder um bebê e tentar outro. Nós não, temos um longo caminho até aqui. e não seria exagero dizer que trocaríamos um braço, uma perna, um rim, em prol dessa vida que cresce aqui dentro!

Continuo em orações para que meus próximos posts sejam apenas sobre os enjôos que me consomem, o peito que cresce de vento em popa e a próxima ultra que vai dizer o sexo do nosso pimpolho!

Amém?

Força, foco e fé

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